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Fases do Sociodrama

Durante esta fase podemos distinguir dois tipos de aquecimento – inespecífico e o específico. O director inicia o aquecimento inespecífico com perguntas vagas relacionadas, no meu caso, sobre as expectativas dos alunos de educação social, dos problemas que vão emergindo durante o nosso percurso académico ou de assuntos que os alunos desejariam que fossem abordados. É “um tempo de relaxamento ou de expectativas, convida os elementos do grupo à participação e à interacção livre.” (Veiga, 2009, p. 135) Também é neste momento que o director pergunta aos elementos do grupo se existe algum assunto ainda por falar relativamente a sessão anterior e se gostariam de se debruçar ainda em determinado assunto. A partir dessas questões os alunos começam a interagir acabando por emergir o assunto principal, dando lugar ao aquecimento específico. Após uma abordagem acerca do emergente grupal, para melhor clarificar, dá-se lugar a uma dramatização e/ou estátuas e/ou outros tipos de técnicas para que os protagonistas com o seu biopsicossocial tome consciência das suas representações mentais, dos seus esquemas cognitivos, da sua forma de ver o mundo.



A dramatização tem a sua raiz na palavra drama que deriva do grego – drãma – que, por sua vez, significa acção. A dramatização é o acto de pôr em acção o emergente grupal proveniente do aquecimento específico.
A dramatização oferece no “aqui” e no “agora” três dimensões temporais, ou seja, pode entrar em jogo o presente, passado e futuro. Por outro lado oferece uma dimensão espacial permitindo aos elementos do grupo trazer, ao palco dramático, espaços do real ou do imaginário.  
A dramatização é a acção que mais se aproxima da realidade, com a vida, na medida em que permite recriar, simbolizar e representar situações do quotidiano (“como se”), contudo a dramatização não é a realidade. “ Não se trata de abandonar o universo do imaginário em favor do universo da realidade (…) mas antes definir os meios pelos quais o indivíduo pode adquirir um completo domínio de uma situação, vivendo nas duas vias e capaz de passar de uma para a outra” (Moreno, 1970, cit. Aguilar, 2001)
A dramatização permite aos protagonistas a exteriorização das suas vivências interiores, das suas ideias, emoções, sentimentos, necessidades, dificuldades e simultaneamente auto-descobrir novas formas de interagir. Ao jogar entre o “eu” e o “tu” poderá ocorrer novos sentimentos sendo a empatia um dos propósitos da dramatização. É nesta troca de papéis, e numa acção dinâmica comunicacional, que surge a espontaneidade. Integrando outros papéis, o contacto com o outro e descentrando-se de si, possibilita a compreensão e consequentemente desenvolver competências de âmbito social. Muitas vezes o director pode-se munir dos seus egos auxiliares, “a quem dará instruções, e através dos quais ele vai lidar com o protagonista” (Abreu, 1992 , p. 28) facilitando a produção de novas formas de estar, ser e pensar. Como referi anteriormente, o desenvolvimento tanto é para o protagonista como para o ego-auxiliar, assim como para o auditório que “testemunham as situações dramatizadas e ampliam-nas com as suas emoções e vivências, já que, ao mesmo tempo que o protagonista dramatiza no palco, cada um dos elementos do grupo pode ser protagonista no seu palco anterior”. (Veiga, 2009, p. 137)
Não é menos verdade que devemos estar atentos à linguagem corporal (mais do que o discurso que facilmente camufla as suas vivências interiores). São estas formas de comunicar que traduzem a realidade vivencial dos protagonistas.
Dando uma pequena nuance da importância da dramatização é importante realçar (mais uma vez) que a dramatização é uma sequência do aquecimento específico na qual o director ajuda a construir as cenas. No decorrer da dramatização o director poderá utilizar determinadas técnicas (inversão de papéis, solilóquio, espelho, duplo, entre outras). É nesta fase que os protagonistas deixam de descrever as situações e passam a demonstrar com o seu bio(corpo)psicossocial as acções. O director pode introduzir novas cenas ou terminar a dramatização unindo os pés opostos das cadeiras como o “fecho das cortinas” de uma peça de teatro se tratasse. O “como se” termina e os elementos voltam para os seus lugares decorrendo os comentários/partilha. 


Este é o momento na qual se integra as fases precedentes. É um momento de partilha sobre a sessão. A partilha compreende um processo organizado. O director começa a dar voz ao protagonista sobre a sua vivência dramática, de seguida ao auditório, posteriormente os egos auxiliares e por fim, a última palavra é a do director. É importante salientar que este momento não se deve confundir com um debate. Em silêncio cada um deverá ouvir o que o outro tem para dizer. “Este procedimento técnico, favorece a integração e sobretudo inibe o confronto no contexto grupal e as consequências projectivas e disruptivas daí advenientes ” (Dias, 1993, p.41 cit. Veiga, 2009, p. 138)
Para mim este é o momento de maior crescimento onde os diferentes olhares dos elementos, sobre uma determinada situação vivencial do contexto psicodramático, podem fazer brotar um novo quadro de referências. Julgo que as aprendizagens são transversais a todos os elementos. A partilha potencia uma maior reflexão sobre a situação e, simultaneamente, lembrar que temos outras escolhas que se podem fazer. Ter uma atitude mais crítica face ao seu “eu” e, consequentemente, poder dar uma resposta mais criativa. Todavia é preciso ter a consciência que apesar da diversidade das respostas dadas a uma situação problemática não nos permite ter uma receita chave, pois, na verdade, cada ser humano é incomparável, cada grupo é único e, possivelmente, a “chaves” encontradas não entraram na “aloquete”. Creio que durante a partilha o grupo sai com mais dúvidas do que certezas para que cada um, individualmente, possa construir no âmbito social, profissional e pessoal novas interacções, possamos ser melhores pessoas com sentimentos de liberdade e éticos (assim acredito!). “Nesta troca reside uma das riquezas das terapias de grupo, ao permitir que todos os elementos possam ser numa sessão terapeutas e protagonistas.” (Veiga, 2009, p. 139)

1 comentário:

  1. Olá! gostei muito do seu blog e, principalmente, o modo como aborda os conteúdos. A clareza, sem redundâncias facilita bastante para quem quer entender e se aprofundar um pouco mais no Psicodrama. Grata pelas postagens.

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